Opinião de Leonel Castro, candidato do Bloco de Esquerda nas legislativas, publicado no jornal Notícias de Fafe:
Vivemos em Fafe uma época de angústia e inquietação política. Provavelmente uma época que no futuro deliciará historiadores e politólogos.
A verdade é que a democracia em Fafe funciona, mexe, ferve. E o ponto de ebulição perdura, pois não sabemos ao certo o que é líquido e o gasoso confunde os mais distraídos, a cada dia.
Como certamente sabem, e aproveito para relembrar, o Sebastianismo, também designado mito sebástico ou mito do «Encoberto», é um mito messiânico cuja origem radica no desaparecimento do rei D. Sebastião na batalha de Alcácer Quibir, a 4 de Agosto de 1578.
Com o seu desaparecimento e a posterior anexação de Portugal pela Espanha, em 1580, dado o rei não ter descendência que assegurasse a ocupação do trono, o país entra num dos períodos mais negros da sua história à espera de um messias, de um heróico salvador. Da relutância em acreditar que a pátria tinha ficado órfã e que, com a morte de D. Sebastião, a velha pátria morria também, nasce o mito do sebastianismo. Assim, este mito sustenta a esperança messiânica e a crença de um povo no regresso do rei desaparecido, que viria vencer a opressão, a tirania, a humilhação, o sofrimento e a miséria em que vivia, devolvendo ao país a glória e a honra passadas e entretanto perdidas. O sentir do português comum, sustenta o sebastianismo como uma crença mítica. Um sentimento em que cada português sente-se, em si, incompleto, irrealizado, guardando memória de um inacabemento essencial.
Servi-me desta referência estruturante da nossa identidade nacional para tentar fazer uma pequena analogia com a situação política actual no nosso município. É assim que a interpreto. Um sebastianismo à Moda de Fafe.
Ao contrário da fatídica batalha de 1587, a "batalha" em Fafe dura há sensivelmente 12 anos. Protagonizado por um líder carismático, persistente, congregador e estratega, há hoje em Fafe um exército que foi crescendo em resultados, sustentando-se na afirmação de uma alternativa de trabalho, capaz, séria e plural. O resultado dessa campanha trouxe à realidade do nosso concelho (que alguns consideravam intocável) uma situação nova no panorama político fafense. E, como tal, obrigou alguns dos seus agentes a repensar posicionamentos, estratégias, tácticas e intérpretes. É a democracia a funcionar em Fafe.
Neste momento, as incertezas são muitas, as circunstâncias indefinidas e ninguém aparece e o nevoeiro não passa!
Os fafenses aguardam ansiosamente. Vale tudo nas premonições. Aliás, a confussão é estratégia e o "nevoeiro" ajuda.
Entretanto, vão-se organizando as fileiras. Combina-se, acorda-se, no espaço e no tempo, combates ofensivos e defensivos, capazes de decidir a consecução total ou parcial de um objetivo comum. As tropas aguardam ansiosamente, imbuídas num espírito legitimamente messiânico. Por um lado, aguarda-se o sinal de partida. Por outro, aguarda-se que chegue o comandante, tal qual um D. Sebastião.
Objectivamente, a figura de D. Sebastião vale pelo que representa, não tanto pelo que realmente é.
Fosse a solução de encontrar um D. Sebastião tão fácil como quando se fazem ajustes directos. A fundamentação da necessidade de recurso ao ajuste directo poderia ser a de sempre: ausência de recursos próprios!