“A VIDA É TÃO BONITA!”
(Obrigado, Dona Maria)
Ao longo dos dias que compõem o nosso existir, às vezes, temos o privilégio de viver momentos inesquecíveis. Momentos tão especiais que só pode ser Deus, de uma forma intencional, a ofertá-los, para que nós, simples humanos, possamos ver mais além e encontramos o sítio onde moram todas as madrugadas.
Era dia de Carnaval, tarde do dia 9 de fevereiro de 2016, Pavilhão Multiusos de Fafe, e decorria o evento solidário, organizado pelos Leos (os jovens do Lions Clube de Fafe), a favor dos idosos dos lares de Fafe. Em redor ouviam-se vozes, música e outros sons próprios da circunstância.
Quando entrava no recinto, juro que uma certa tristeza me corroía o peito! Não sei bem porquê, mas era uma espécie de angústia que quase me cobria o olhar e… segui em frente. Depois de cumprimentar amigos e companheiros, e outras pessoas, dirigi-me ao lugar onde a festa iria ter mais cor. Saudei o meu amigo Maurício, um dos responsáveis pelo som, imagem, (e que fez o favor de me facultar a foto postada a esta história), mal chegou a hora, clicou onde devia e todo o Multiusos se inclinou para o início da festa. Atento ao que me circundava, reparei logo numa mulher que se adiantou aos meus olhos e me sorriu.
Já noutras alturas, julgo eu, vira a Dona Maria, é assim que ela se chama, mas nunca tinha reparado na sua maneira de ser. Na verdade, quando me estendeu as mãos, eu percebi que me estava a convidar para dançar. Sem os meus receios usuais quando a dança se me oferece, pois, muito sinceramente, dançar não é o meu forte, eu fui.
Se os sorrisos e graciosidades trocadas entre nós foram bastantes, enquanto os nossos passos acompanhavam o ritmo musical, não partilhamos muitas palavras, pois a música estava alta. Do pouco que ela me disse, jamais esquecerei as cinco que me ofertou de uma forma tão desprendida “ A VIDA É TÃO BONITA!”.
Eu sei que as palavras só têm sentido se nós lho quisermos dar, mas as daquela mulher soaram na minha alma como um grito de verdade, e que ainda agora escuto.
Não dancei mais de quatro músicas, mas a Dona Maria nunca mais parou até ao fim da festa. Depois do Zumba, vieram os irmãos da Concertina e depois o Grupo da AAPAEIF, e ela dançava, dançava... Foi impressionante ver e sentir a grandeza e a força daquela mulher de mais de oitenta anos. É verdade! A sua idade era muita, mas a sua vida era do tamanho do céu. É curioso, ao peito trazia uma medalha, que de vez em quando acariciava! Que lembranças ali se apegavam?
Quando saí do Pavilhão Multiusos de Fafe, do céu escorriam pingos de chuva farta, e a alegria embebia-me todo o ser. (Obrigado, Dona Maria!)
Agora, sentado no meu escritório, a escrever esta pequena história, ainda oiço aquelas palavras, “ A VIDA É TÃO BONITA!”. E vejo, também, o que os meus olhos nunca tinham notado em outras ocasiões: uma mulher de muitos anos, vestida de juventude, olhos da cor do tempo, com sorrisos primaveris, cabelos feitos de luar e… dançava, dançava…