Expresso de Fafe entrevista José Ribeiro:
Expresso de Fafe (EF): Recordando o processo eleitoral, o movimento Fafe Sempre, pelo qual foi candidato, venceu a assembleia municipal, mas não a câmara. Como interpretou esse resultado? Quais eram as suas expectativas para estas eleições?
José Ribeiro (JR): Pensei que ganharíamos as eleições para a câmara e para a assembleia municipal. Não fazia distinção, preferia aliás ganhar a câmara e perder a assembleia municipal. Normalmente em eleições autárquicas a assembleia é o que “menos importa” relativamente à eleição, porque verdadeiramente o poder está no executivo. Não dou particular relevo ao facto de ter vencido para a assembleia. A diferença esteve numa centena de votantes que porventura não fizeram o mesmo
voto para um e outro órgão, mas pela circunstância dos números não tem significado especial. Ironia do destino apenas, é que eu era o principal alvo a abater nas eleições, mas sobrevivi a este combate. Essa é a ironia das eleições. É que os eleitores não me quiseram afastar da gestão autárquica.
EF: Habituou o PS a largas maiorias. O presidente da câmara, Raul Cunha, disse em entrevista ao nosso jornal, na última edição, que o considerava o “Cristiano Ronaldo das eleições em Fafe”. Sente-se lisonjeado? Revê-se nesse título?
JR: É verdade, sem qualquer falsa modéstia, que desde 1993, sendo eu já há alguns anos o presidente da comissão política do PS, o partido nunca perdeu eleições nacionais em Fafe, que perdia até aí praticamente todas. Perdeu em 2015 pela primeira vez, em vinte e poucos anos. Em eleições autárquicas, o PS tem maiorias desde 1982. Mesmo nas circunstâncias mais adversas, o PS teve sempre maiorias absolutas, incluindo eu próprio, quatro vezes, e é sabido que em ‘97 tive uma eleição muito difícil, contra dois dos mais temíveis adversários, Dr. Parcídio Summavielle e Dr. António Marques Mendes. Orgulho-me naturalmente de ter conduzido o PS nessas circunstâncias, mas isso é mérito sobretudo da capacidade de trabalho dos que comigo ao longo desses anos estiveram. Esse título a mim não me diz nada, mas certamente que fico lisonjeado por ser reconhecido que tive sempre vitórias autárquicas desde que sou candidato em listas do PS e agora também no movimento Fafe Sempre.
EF: Como foi concorrer contra o PS, tendo em conta o seu passado no partido?
JR: Eu não concorri contra o PS, o PS é que concorreu contra nós. É essa a leitura que faço. Como disse várias vezes, e reitero, nós reagimos à indignidade que a direção nacional do PS nos quis impor. Como dizia Mário Soares, é o nosso direito à indignação. Reagimos à mentira do candidato que o PS apresentou, que reiteradamente disse que não queria ser candidato e depois voltou atrás na palavra, e reagimos contra aqueles que há 20 anos tentam destruir o PS e que agora nestas eleições deram sinais de colaborar com ele, mas mal elas acabaram voltaram outra vez ao terreno. Os Independentes por Fafe já tentaram destruir todos os partidos: o PS foi o primeiro, depois foi a CDU; foi o PSD, com quem até poucos meses antes das eleições tinham um acordo de cavalheiros; namoraram o CDS, e como diria Mao Tsé-Tung, não conseguindo vencer o PS juntaram-se a ele. As nossas candidaturas foram suportadas numa decisão muito clara da comissão política de Fafe e foram retificadas pela comissão política distrital. Não nos foi dada possibilidade de discutir a divergência que se criou. Foi imposição sem espaço para negociação ou discussão. Foi público que o secretário geral, António Costa, se comprometeu a reunir connosco, e não o fez. Demonstra a arrogância com que a direção nacional nos tratou. Pena foi que nós por muito poucos votos não tivéssemos ganho as eleições, porque tudo mudaria com certeza.
EF: O que acha que falhou para não terem vencido?
JR:O meu convencimento foi sempre o de que venceríamos, apesar da consciência que tinha da grande dificuldade. Julgo que perdemos as eleições nas últimas 72 horas, com algumas coisas que devíamos ter feito e não fizemos. Para além de aqui ou ali haver uma ou duas freguesias que devíamos ter tratado de outra forma, mas que não tratamos por confiarmos naqueles que tínhamos lá a representar-nos. No último dia de campanha podíamos ter feito mais, porque a distância a que ficamos era a alteração de menos de uma centena de votos. Sentíamos que a vitória estava perfeitamente ao nosso alcance, o clima que se vivia respirava isso e até a sondagem que foi divulgada pouco tempo antes indicava isso mesmo. Na última semana da campanha fizemos uma reunião com os nossos candidatos, e foi quase premonitório: eu disse que estávamos a 150 votos de ganhar as eleições. Disse-o no sentido de mobilizar ainda mais os nossos candidatos, porque sentíamos que estava perfeitamente ao nosso alcance.
EF: Como viveu a noite de revelação de resultados, em que acabou por anunciar a sua demissão da concelhia do PS?
JR: Foi o último episódio, dos três últimos dias, que eu digo que não estivemos bem. À hora em que falamos às pessoas que estavam à porta da nossa sede, que eram muitas, convencidas da nossa vitória, porque as televisões davam-nos a vencer, não tínhamos resultados e a câmara também não. E eu tão pouco sabia que tinha vencido para a assembleia municipal. Havia indicações de que teríamos perdido as eleições, o nosso adversário já festejava, e optamos por desmobilizar as pessoas. Fizemos quase tudo bem durante todo o tempo, na noite das eleições o nosso sistema de recolha de dados faliu. Levou-nos a essa situação quase caricata de termos as pessoas à porta a quererem festejar e não termos certeza do que tinha acontecido.
EF: Sente que a sua vitória ficou então por festejar? O que seria diferente se tivesse tido acesso aos dados?
JR: Não seria muito diferente do que foi. Não teríamos festejado nada, mas certamente aquelas centenas de pessoas teriam ido menos desoladas do que foram se soubessem que ganhamos para a assembleia municipal. Talvez nessa circunstância eu pudesse não ter anunciado logo a minha demissão de presidente da comissão política. A minha estratégia era, não ganhando as eleições para a câmara, tirar consequências da derrota, que foi o que fiz. Se nessa altura tivesse já o resultado definitivo da assembleia talvez ponderasse um pouco mais se deixava para mais tarde. Não o anunciava naquela circunstância, mas que o iria fazer com certeza que sim.
EF: Como reage às críticas que dizem que se deveria ter desvinculado do partido assim que se assumiu como candidato ‘Fafe Sempre’?
JR: Tive oportunidade de o responder e digo-o também agora, quando já recebi uma carta a ameaçar-me de suspensão do partido. Não fiz nada contra o partido, defendi-me do desrespeito e autoritarismo da direção nacional, que não me quis ouvir. Em certo momento eu próprio pensei que, sabendo que estava a correr o risco que agora se verifica de uma suspensão ou até de uma expulsão, pudesse antecipar a minha saída do partido. Não o vou fazer. Vou reagir dentro dos órgãos do partido e sugerir a todos aqueles que estão na mesma circunstância que reajam também por todos os meios que temos para impedir que nos afastem. Temos agora um período de resposta, isto não é ainda uma decisão disciplinar, porque essa só a comissão da jurisdição nacional pode tomar. Isto é mais uma manobra do partido para nos afastar das eleições internas que vêm agora, para não podermos ser candidatos e por ventura não podermos votar. Pela segunda vez, a direção nacional do partido dá cobertura a uma tentativa de ganhar na secretaria. Não vou facilitar, vou reagir. Se os órgãos de disciplina do partido chegarem ao final e me expulsarem eu não tenho outro remédio, sairei, mas com a consciência do percurso que fiz dentro do PS e do contributo que dei para todas as vitórias e toda a força que o PS teve em Fafe.
EF:Tendo em conta a expressiva votação que reuniu nas eleições internas e toda esta força que teve à sua volta nesta eleição, acha que se porventura for expulso o partido ficará mais fragilizado? Acha provável que militantes que estão de acordoconsigo tomem a iniciativa de entregar o cartão de militante?
JR: Não houve até agora saídas do partido porque nós pedimos que ninguém saísse e vamos continuar a pedi-lo. Existe revolta por parte de muitos militantes, mas continuaremos a dizer que não saiam. O partido se entender que nós estamos a mais põem-nos fora. Se vier a acontecer, nenhum de nós deixa de ser socialista, deixa de ter é as obrigações que até agora tinha por ser militante. Que o PS ficará enfraquecido, com certeza, porque são dos melhores quadros que teve ao longo dos últimos 20 e tal anos. Mas virão outros, não será o fim do mundo nem o diabo. Pela minha parte, lutarei com todas as minhas armas para me manter dentro do PS como militante. Se acontecer a expulsão será um quadro novo, em que nós teremos de ver o que será melhor fazer para a frente, porque significará que esta direção não nos quer, e se não nos quer o nosso espaço de intervenção tem de ser outro, mas isso é um processo que ainda vai ter meses pela frente. Estamos a falar de vários presidentes de junta, vereadores, membros da assembleia municipal, pessoas que têm um impacto e uma força significativa nos eleitores. Vamos deixar de intervir politicamente em Fafe? Eu não vou e os outros também não com certeza.