Opinião de Carlos Afonso publicada no seu Facebook:
“Aqui, onde o mar se acabou e a terra espera.”
José Saramago, Ano da Morte de Ricardo Reis.
Já passaram 9 anos desde a 1ª edição das Jornadas literárias de Fafe. Estávamos em 2010. Iniciadas na Escola Secundária de Fafe, em parceria com o Município, elas decorreram envoltas em alma, coração e muita amizade, com os objetivos maiores de promover a leitura, a escrita, Fafe, a literatura, a partilha, os valores e a criatividade.
As Jornadas Literárias de Fafe nasceram, assim, para unir e fazer pontes. Nasceram para criar laços e ir mais além.
Nos anos seguintes, mais escolas, associações e instituições se associaram e o caminho já era percorrido por milhares de fafenses, com alegria e muito acreditar, guiados por outros exemplos:
“E a orla branca foi de ilha em continente / Clareou, correndo, até ao fim do mundo” (Fernando Pessoa).
Na altura das Jornadas, Fafe tinha mais encanto. As «Bandeiras» das Jornadas esvoaçavam ao vento e o povo unia-se em torno de uma causa.
Como é natural, o projeto foi sofrendo alterações, consoante as novas realidades, e os pontos de vista. Chegou-se mesmo a separar a vertente literária das escolas da vertente mais interligada com as tradições e as memórias. «Fafe dos Brasileiros" ganhava, deste modo, o seu lugar. Pensava-se, então, que seria o melhor, tendo em conta a dimensão que as Jornadas estavam a tomar.
Nos últimos anos, no meu humilde entendimento, e porque me sinto no direito de o fazer, acho que os caminhos não estão a ser devidamente percorridos e acertados. «Fafe dos Brasileiros» definhou completamente e, neste ano de 2018, as Jornadas Literárias de Fafe pareceram afastar-se dos seus iniciais objetivos. Afinal a separação, provavelmente, foi um erro.
Eu sei que o Município se preocupa com as Jornadas e que tem todo o interesse que elas continuem, e fico muito contente com isso. O problema é que as coisas não estão a acontecer como deviam. Os factos não podem ocorrer de qualquer maneira, principalmente quando há todo um “histórico” e um «sonho» a preservar.
Pelo que me contaram, este ano tudo foi preparado em cima do acontecimento, num tempo pouco propício para as escolas, e sem que as Jornadas tivessem vida própria. Assim, a união pareceu dar lugar à desunião, e já nada foi como dantes. Nas escolas, muitos alunos e professores viviam a «Semana da Leitura”, enquanto outros seguiam as Jornadas. Se em momentos a Semana da Leitura e as Jornadas caminhavam juntas, noutros momentos, e tal como os programas o evidenciavam, seguiam cada uma por si. Isto não pode acontecer. Se é para caminharmos de mãos dadas, então é isso que terá de suceder. Caso contrário, terão de definir-se outras estratégias.
No próximo ano de 2019 comemoram-se os 10 anos das Jornadas Literárias de Fafe. Uma década já é algum tempo. Faço aqui um apelo a quem de direito. É importante voltarmos a viver o grande evento das Jornadas todos juntos, pois as jornadas são de FAFE: escolas, aldeias, vila e cidade, associações e instituições.
É fundamental, e porque muitos fafenses assim o desejam e mo fazem sentir todos os dias, voltarmos a fazer das «NOSSAS» Jornadas um acontecimento do tamanho do nosso querer. Claro que os tempos agora são outros, mas o espírito das nascentes continua o mesmo.
Antes de terminar, faço uma homenagem sentida e justa a todos os que comigo fizeram nascer o grande acontecimento cultural e humano das Jornadas, e que ainda o continuam a fazer, apesar de alguns contratempos. Aos amigos Fátima Caldeira, Maria José Cerdeira, Etelvina Castro, Artur Coimbra e Paulo Teixeira, e a tantos outros, agradeço o me terem acompanhado, com convicção, desde o início, e durante cinco anos, num sonho tão belo! Um sonho que ainda tem muito para brilhar.
Ficou aqui «O MEU OLHAR TRISTE» sobre as Jornadas Literárias, assim como deixo também um pedaço do hino que, orgulhosamente, as canta e gostaria que as continuasse a cantar…
“Nos campos verdes do Minho
E antes de o sol acordar,
A lua adormece na esperança,
Na certeza do acreditar.
(…)
Das águas que descem dos montes,
Colhe-se a pureza das nascentes,
Da alma dos poetas fafenses,
Escuta-se a liberdade.”