BLOG MONTELONGO
Olhares para Fafe
21
Mar 18

Opinião de Carlos Afonso publicada no seu Facebook:

 

“Aqui, onde o mar se acabou e a terra espera.”
José Saramago, Ano da Morte de Ricardo Reis.

Já passaram 9 anos desde a 1ª edição das Jornadas literárias de Fafe. Estávamos em 2010. Iniciadas na Escola Secundária de Fafe, em parceria com o Município, elas decorreram envoltas em alma, coração e muita amizade, com os objetivos maiores de promover a leitura, a escrita, Fafe, a literatura, a partilha, os valores e a criatividade.
As Jornadas Literárias de Fafe nasceram, assim, para unir e fazer pontes. Nasceram para criar laços e ir mais além.
Nos anos seguintes, mais escolas, associações e instituições se associaram e o caminho já era percorrido por milhares de fafenses, com alegria e muito acreditar, guiados por outros exemplos:
“E a orla branca foi de ilha em continente / Clareou, correndo, até ao fim do mundo” (Fernando Pessoa).
Na altura das Jornadas, Fafe tinha mais encanto. As «Bandeiras» das Jornadas esvoaçavam ao vento e o povo unia-se em torno de uma causa.
Como é natural, o projeto foi sofrendo alterações, consoante as novas realidades, e os pontos de vista. Chegou-se mesmo a separar a vertente literária das escolas da vertente mais interligada com as tradições e as memórias. «Fafe dos Brasileiros" ganhava, deste modo, o seu lugar. Pensava-se, então, que seria o melhor, tendo em conta a dimensão que as Jornadas estavam a tomar.

jornadas literárias fafe

 

Nos últimos anos, no meu humilde entendimento, e porque me sinto no direito de o fazer, acho que os caminhos não estão a ser devidamente percorridos e acertados. «Fafe dos Brasileiros» definhou completamente e, neste ano de 2018, as Jornadas Literárias de Fafe pareceram afastar-se dos seus iniciais objetivos. Afinal a separação, provavelmente, foi um erro.
Eu sei que o Município se preocupa com as Jornadas e que tem todo o interesse que elas continuem, e fico muito contente com isso. O problema é que as coisas não estão a acontecer como deviam. Os factos não podem ocorrer de qualquer maneira, principalmente quando há todo um “histórico” e um «sonho» a preservar.
Pelo que me contaram, este ano tudo foi preparado em cima do acontecimento, num tempo pouco propício para as escolas, e sem que as Jornadas tivessem vida própria. Assim, a união pareceu dar lugar à desunião, e já nada foi como dantes. Nas escolas, muitos alunos e professores viviam a «Semana da Leitura”, enquanto outros seguiam as Jornadas. Se em momentos a Semana da Leitura e as Jornadas caminhavam juntas, noutros momentos, e tal como os programas o evidenciavam, seguiam cada uma por si. Isto não pode acontecer. Se é para caminharmos de mãos dadas, então é isso que terá de suceder. Caso contrário, terão de definir-se outras estratégias.
No próximo ano de 2019 comemoram-se os 10 anos das Jornadas Literárias de Fafe. Uma década já é algum tempo. Faço aqui um apelo a quem de direito. É importante voltarmos a viver o grande evento das Jornadas todos juntos, pois as jornadas são de FAFE: escolas, aldeias, vila e cidade, associações e instituições.
É fundamental, e porque muitos fafenses assim o desejam e mo fazem sentir todos os dias, voltarmos a fazer das «NOSSAS» Jornadas um acontecimento do tamanho do nosso querer. Claro que os tempos agora são outros, mas o espírito das nascentes continua o mesmo.
Antes de terminar, faço uma homenagem sentida e justa a todos os que comigo fizeram nascer o grande acontecimento cultural e humano das Jornadas, e que ainda o continuam a fazer, apesar de alguns contratempos. Aos amigos Fátima Caldeira, Maria José Cerdeira, Etelvina Castro, Artur Coimbra e Paulo Teixeira, e a tantos outros, agradeço o me terem acompanhado, com convicção, desde o início, e durante cinco anos, num sonho tão belo! Um sonho que ainda tem muito para brilhar.
Ficou aqui «O MEU OLHAR TRISTE» sobre as Jornadas Literárias, assim como deixo também um pedaço do hino que, orgulhosamente, as canta e gostaria que as continuasse a cantar…

“Nos campos verdes do Minho
E antes de o sol acordar,
A lua adormece na esperança,
Na certeza do acreditar.
(…)
Das águas que descem dos montes,
Colhe-se a pureza das nascentes,
Da alma dos poetas fafenses,
Escuta-se a liberdade.”

publicado por blogmontelongo às 18:00
12
Out 16

Opinião de Alexandre Leite, eleito da CDU na Assembleia Municipal, no jornal Notícias de Fafe:

 

Na época em que as famosas pirâmides do Egito estavam a ser construídas, também cá em Fafe a população local construía os seus monumentos funerários. Eram pequenas construções ligeiramente elevadas, que entre nós são conhecidas como mamoas. Existem no concelho de Fafe vários desses testemunhos da ocupação do nosso território há milhares de anos. É uma pena que sejam praticamente desconhecidos da população, no sentido de não serem entendidos como um importante valor patrimonial e histórico. Cabe às autoridades responsáveis criar condições para que não continuem a ser destruídos, como já foram vários.

A sua valorização pode servir, em conjunto com outras atividades culturais, para atrair visitas de estudo e turismo cultural ao nosso concelho. Para além disso, deveriam servir para enriquecer a nossa identidade e a consciência histórica, para que entendamos que o mundo não foi sempre assim como o conhecemos no presente, que a forma como se encara a vida e a morte não tem de ser obrigatoriamente aquela a que estamos habituados, que a obra humana é de uma enorme diversidade, que a nossa história não começou ontem e que está nas nossas mãos decidir como avançará. Era útil a criação de um roteiro do Pré-Histórico Fafense, com a proteção, recuperação e promoção das várias estruturas pré-históricas existentes nas várias freguesias de Fafe.

Há em Santo Ovídio ruínas mais recentes do que as tais mamoas, neste caso, com cerca de 2 mil anos, que provam que esta região foi habitada pelos romanos. No dia em que o imperador romano Nero assistia ao incêndio de Roma, estava instalado em Santo Ovídio um povoado castrejo que representava o poder imperial e que trouxe até nós a cultura, a religiosidade, os hábitos, a língua de Roma. A língua em que está escrito este texto é “neta” da língua que falavam os soldados romanos instalados no território a que agora chamamos Fafe, há dois milénios. É nosso dever apoiar a recuperação e promoção das ruínas do castro de Santo Ovídio de forma a que possa ser visitado condignamente pela população e compreendidas as lições que podemos retirar do seu estudo. Pode também servir como polo de atração turística e cultural.

Ruinas Romanas Fafe Santo Ovídio

 

Da história mais recente, na viragem para o século XX, temos alguns exemplos de casas da chamada “arquitectura dos brasileiros” que foram entretanto destruídas ao longo das décadas, muitas vezes para, no seu lugar, serem construídos edifícios de duvidoso sentido estético. Ainda há poucas semanas, foi destruída mais uma casa dos finais do século XIX bem perto do centro da cidade. Por outro lado, temos também recuperações de edifícios que fazem parte do importante património edificado fafense, como são o caso do Solar da Luz em Fornelos e de uma outra casa particular perto do Teatro-Cinema (outro bom exemplo de preservação), só para falar das mais recentes. É também verdade que o edifício “do Grémio” está já a ter utilidade depois de ter sido recuperado pela Câmara Municipal. Mas uma verdadeira democratização cultural obrigaria a muito mais do que apenas preservar património ou proteger “ruínas”. Era preciso que não deixássemos arruinar a nossa memória e que todo este património fosse divulgado, estudado, visitado e acarinhado.

publicado por blogmontelongo às 18:00
23
Jan 16

Opinião de Pedro Miguel Sousa publicada no jornal Povo de Fafe:

 

     Não se pode ignorar o que é genuíno. Voltamos a Fafe. Chegamos fisicamente algumas vezes e de pensamento todos os dias. Fafe viu-nos nascer e crescer. Mesmo se nos adaptamos com facilidade a outras localidades por força do ofício, o certo é que aquele é o nosso cantinho. Há sempre uma atenção redobrada em torno das suas gentes, usos e costumes. Fafe é terra da Justiça e é essa a imagem que melhor vende Fafe. Valorize-se o símbolo da Justiça de Fafe!

     Considero que é na procura de elementos especiais que fazem correr as televisões aos locais sem que haja para isso uma catástrofe. As televisões também são capazes de promover cultura sem levar milhares aos bolsos dos contribuintes nos programas de domingo à tarde. As sextas-feiras 13 em Montalegre. A festa de chocolate de Óbidos. A feira medieval de Santa Maria da Feira… e agora Cabeça Aldeia Natal em Seia.

     Fafe precisa deixar de ter vergonha do epíteto da justiça. Eu sou de Fafe e tenho orgulho em me afirmar pelos valores da Justiça de Fafe. O gajo que agarra pelos colarinhos a injustiça e a ingratidão e lhe dá a maior das sovas. Não há que ter vergonha de enfrentar os problemas ou como se diz no Alentejo ‘o touro pelos cornos’.

Justiça Fafe

      Mas o que interessa isso para Fafe?

     As questões da cultura são muitas vezes desvalorizadas porque não se vê facilmente o lucro imediato. A economia é quem manda e é preciso dar-lhe atenção porque se assim não for ninguém se importará.

     Considero que deveria ser facilmente identificável o símbolo da Justiça de Fafe nas entradas principais da cidade. Uma espécie da figura do homem de capa preta quando se visita a Régua. Aproveitar as festas do concelho (16 de Maio) para construir um evento cultural que envolvesse a temática, por exemplo, uma espécie de ‘julgabestamento’ que seria resolvido ‘à paulada’ numa representação alegórica em praça pública.

     Neste julgamento da besta, estariam presentes as mais variadas temáticas: a subida das taxas, a fuga aos impostos, a discrepância entre ricos e pobres, a injustiça social… enfim, tudo o que coubesse num evento que de alguma forma pudesse envolver a população fortemente armada com a vara transformada em matéria leve.

     “Ridendum castigat mores” (A rir castigam-se os costumes!), afirmava Gil Vicente e, em Fafe, já se podia dizer que se faz justiça popular como em Guimarães se celebra o Pinheiro, no Porto o S. João e na Guarda se julga o pobre do Galo.

     O resultado parece óbvio: os escritores prepararão os textos, os atores a sua representação, as pessoas envolvem-se na festa, os comerciantes apressar-se-ão em conseguir elementos alusivos das mais variadas espécies, as televisões têm novidade, os forasteiros querem presenciar e Fafe fica a ganhar com a sua imagem de marca, porque “Com Fafe, Ninguém Fanfe”.

publicado por blogmontelongo às 18:00
01
Jul 15

Opinião de Carlos Rui Abreu no jornal Notícias de Fafe:

 

Creio que em Fafe existe uma forma desgarrada de organização de eventos e que falta um planeamento que faça com que os organizadores não se atropelem uns aos outros.

Não defendo uma espécie de municipalização de tudo o que acontece em Fafe mas a autarquia ao apoiar de forma significativa o que vai acontecendo no concelho deveria ter a 'autoridade' de sugerir datas para que ninguém se atropele. Acho que todos ficariam a ganhar.

O último sábado voltou a ser paradigmático quanto a esta 'desorganização'. À mesma hora, e porque era o fim-de-semana do São João, realizavam-se várias festividades populares um pouco por todo o concelho. No Teatro-Cinema estava a ser levada a palco mais uma peça no âmbito do Festival Fafencena, em Antime decorria outra peça teatral, no Parque da Cidade um Sunset e no jardim do Calvário um concerto do ciclo "48/20".

Que dia! Tudo aconteceu, em contraponto com outros em que a pasmaceira é generalizada. Todos perdem porque Fafe não tem público que chegue para tantas actividades ao mesmo tempo.

 

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Foto de João Pedro Soares

 

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