Opinião de Eurico Castro na revisa Factos de Fafe:
Falta pouco menos de um ano para as autárquicas 2017 e assistimos a um desfile de nomes para encabeçar as listas dos partidos e movimentos do concelho. Um desfile de nomes que corre os cafés e redes sociais. Hoje, as redes sociais são verdadeiros palcos de debate entre cidadãos anonímos em torno do nome do candidato do partido x ou y, ou até do movimento Z.
Mas não seria mais importante antes, falar dos projectos, da estratégia e modelo de desenvolvimento social e conómico que os partidos e movimentos pretendem para o concelho, do que os nomes para encabeçar as listas? Vive-se actualmente uma autêntica obcessão pelo nome dos candidatos, esquecendo-se dos problemas do concelho e das soluções a apresentar pelas forças políticas para a sua resolução. Se é verdade que é importante conhecer o nome do candidato, mais importante será conhecer os projectos, as ideias, a visão que cada força política tem para o concelho.
A discussão em torno do nome do candidato torna-se um pouco fútil e redutora da real importância do acto eleitoral que se avizinha. Mais preocupante será a falta de pensamento próprio de alguns cidadãos. Li, há dias, uma frase que me assustou, "Sou...(orientação partidária), e se o ... se apresentar pelo partido x, eu voto nele, senão será o candidato que o meu partido (x) escolher", e de seguida um interveniente da discussão virtual perguntava lhe: "mesmo que seja o Costinha?...", o que o primeiro interveniente lhe respondeu que sim!
Mas a discussão não ficou por aí, a fundamentação ainda foi mais chocante, afirmando que prezava os valores do 25 de Abril, e que mesmo não concordando com o líder do partido, votaria na pessoa que por ele fosse indicado, independentemente de ser competente ou não, por patilhar a mesma ideologia político-partidária.
O exemplo que acabei de dar não é exclusivo de Fafe, tal pensamento ainda bastante presente a nível nacional. Assusta-me ver que esse pensamento ainda esteja muito presente numa sociedade moderna como a nossa. Uma sociedade que passou por uma ditadura de quase 50 anos, em que os candidatos eram impostos e não havia escolha, liberdade de expressão e pensamento próprio.
Assusta-me que hoje ainda existe este tipo de seguidismo.
Ter uma ideologia política não significa aceitar cegamente as directivas dos líderes partidários, sem ter um pensamento crítico e fundamentado sobre as opções políticas apresentadas. Concordo que o candidato tem algum peso na escolha, quer pela sua competência, que pelo seu carismo. Por muito carismático que seja, ou por muito competente que seja, um candidato sem uma visão e sem ideias, é um vazio!
Mas a escolha é nossa, o pensamento é nosso, somos livres, e não deixamos de defender a nossa ideologia política, ao não aceitar aquilo que nos é imposto pelos líderes partidários.
O voto é secreto, e podemos com o nosso voto, mostrar o nosso descontentamento contra a nossa família política. Não precisamos de mudar de partido para mostrar que temos um pensamento livre. O voto é a arma que temos para mostrar os nossos pensamentos, respeitando sempre os nossos princípios e os nossos valores políticos.
Para quem gosta de ler, deixo aqui a minha sugestão pré-eleitoral. O ensaio sobre a lucidez, de José Saramago, um livro bastante esclarecedor sobre os medos da classe política!