Opinião de Alexandre Leite, eleito da CDU na Assembleia Municipal, no jornal Notícias de Fafe:
Na semana passada, aluiu no Parque da Cidade um dos lagos artificiais lá construído há poucos meses. Aquele local é percorrido por linhas de água subterrâneas que, provavelmente, foram socavando o terreno por baixo do lago. Por muito bonito que estivesse, e por muito estável que aparentasse estar, não teve como resistir a uma corrente subterrânea que diariamente lhe ia retirando suporte.
A situação é semelhante à vivida pelo nosso país. Há várias linhas de água subterrâneas que nos vão escavando os alicerces e que, se não desviarmos o seu curso, se não nos prevenirmos, ou se optarmos por nos instalar mesmo em cima dos problemas, acabarão por fazer cair a estrutura do país. Já tivemos até um primeiro-ministro, Guterres, que se demitiu do cargo fazendo referência ao pântano em que nos encontrávamos. As coisas não melhoraram entretanto.
A crescente dívida pública e os consequentes juros, que já ascendem a 8 mil milhões de euros anualmente, são um rombo na capacidade de investimento público e limitam a recuperação dos serviços públicos e o desenvolvimento do país.
A nível europeu, o Tratado de Estabilidade Orçamental que obriga os países a determinadas práticas orçamentais empurra Portugal para o empobrecimento. A política europeia já conseguiu fazer aluir a nossa agricultura. As políticas económicas europeias vão aluindo vários sectores da nossa economia.
Esteve bem o PCP antes, durante e depois das eleições de 2015, ao desenvolver esforços para que fosse interrompida a governação do PSD e CDS e ajudar a construir uma nova solução política que permitiu a formação de um governo do PS, abrindo caminho para a reconquista de alguns dos direitos e dos rendimentos perdidos no governo de Passos Coelho. Não foi ainda desviado suficientemente o curso desse rio subterrâneo, mas instalou-se uma pequena barragem, um dique, que permitiu o aumento do salário mínimo nacional e que irá permitir o alargamento da oferta de manuais escolares aos primeiros 4 anos do ensino básico, por exemplo.
Mas é preciso também reforçar os alicerces e a estrutura do país. É urgente renegociar os montantes da dívida pública, rejeitando a dívida que for ilegítima, e rever os prazos de pagamento e juros. Esta é uma das principais linhas de água que escavam a estrutura do nosso país.
O controlo público da banca e de outros sectores estratégicos da nossa economia, verdadeiros alicerces, permitiria desenvolver uma política soberana, colocando o interesse nacional acima das chantagens desta União Europeia e direccionar os recursos para o desenvolvimento e redistribuição da riqueza produzida.
A privatização de vários sectores da saúde, saciando os apetites dos grandes grupos económicos, que vêem uma mina no negócio da saúde, escava realmente a sustentabilidade e a universalidade do Serviço Nacional de Saúde. O que para uns é uma mina, para outros pode bem vir a ser um aluimento. Veja-se o caso dos CTT que davam lucro ao Estado e que agora privatizados pioraram o serviço e que, nomeadamente cá em Fafe, há bastantes queixas, nalguns casos, de semanas de atraso na correspondência.
A natureza desta europa capitalista não se consegue mudar, tal como a natureza não consegue fazer com que a água suba os montes em vez de os descer. Está nas mãos dos povos criar barragens à sua passagem, romper com este sistema, erguer estruturas fora dele.