Opinião de Maria das Dores João, Provedora da Santa Casa da Misericórdia de Fafe, publicada no jornal Notícias de Fafe:
O Hospital de Fafe foi fundado na segunda metade do século XIX, sendo sua entidade administrativa a Irmandade de São José ou da Misericórdia, que durante décadas prosseguiu a sua nobre missão de prestação de cuidados de saúde à população, coligando estra tradicional vocação humanitária com a ausência de benefícios próprios, dado o seu cariz de instituição do âmbito da economia social. Este passado de décadas de proficiente gestão e administração das diversas valências que integram o património das Misericórdias, com resultados visíveis e publicamente reconhecidos, concedeu-lhe a prerrogativa de lhe ter sido depostiada, por parte do governo, a confiança para gerir o Hospital, sem olhar a dúvidas ou receios.
Voltando ao assunto em reflexão, refira-se que o forçado interregno de 40 anos na gestão do Hospital, conduziu-o a níveis de desqualificação em termos de prestação de cuidados médicos que envergonha os seus utentes, sugerindo um insondável desinvestimento no setor público da saúde, levado a cabo nas últimas décadas pela respetiva tutela.
Este governo, reconhecendo que as Misericórdias mantêm com as populações um compromisso relevante no domínio da prestação de cuidados de saúde com tradição estribada na sociedade portuguesa, propôs-lhe a possibilidade de restituição dos Hospitais, outrora seus pertences. Como forma de regulação deste processo foi publicado em Diário da República um decreto-lei que estabelece as normas para a devolução, das quais salientamos a obrigatoriedade de uma redução de 25 por cento nos encargos globais do Estado com a unidade hospitalar.
Ora, perante estes factos, só por desrespeito ao direito de resgate de bens próprios, ou por absoluto desconhecimento dos pressupostos estabelecidos pelo governo, se poderá falar noutras hipóteses para a gestão do Hospital, que não a da Santa Casa da Misericórdia.
Importa também tornar público que a Santa Casa da Misericórdia de Fafe, depois de confrontada com a legítima oportunidade de assumir a gestão do Hospital, a condicionou à salvaguarda da sua manutenção no serviço nacional de saúde, à proteção da sustentabilidade económica e financeira da Instituição e à obrigatoriedade da transferência da gestão não implicar o despedimento de qualquer trabalhador.
Agora que não subsistem dúvidas no que concerne à entidade que vai assumir, a partir de 1 de Janeiro de 2015, a gestão desta unidade de saúde, em consonância com o acordo de cooperação, convidam-se as forças vivas da cidade a juntarmos sinergias em torno deste projeto que é de Fafe e que visa a efetivação do direito à saúde, facultado ao utente a melhor qualidade possível na prestação de serviços médicos.